I got my Visa! - Sobre como foi minha entrevista no Consulado Americano

Cheguei às 6:30 no consulado, em São Paulo. Minha entrevista era às 7:30. Fomos eu eu meu pai, no taxi de um amigo de longa data.

Como já sabia de toda a trajetória lá dentro, por ter tentado um visto F1 em Junho e ter sido negado, acabei explicando para algumas pessoas que estavam próximas, cheias de dúvidas, como tudo funcionava.

Quando cheguei, a fila ainda não estava chegando no final do quarteirão, mas de repente chegaram muitas pessoas e a fila se perdeu de vista.

Passei pelo portão, onde uma mulher olhava o que eu tinha em mãos e avisava que não podia entrar com eletrônicos e objetos de metal. Segui a fila, e outra mulher grampeou a página de confirmação de agendamento e do DS-160, a foto e o comprovante do Citibank.

Mais à frente, entrei em uma sala onde minha pasta passou por uma esteira e uma policial me revistou com um detector de metais. Como eu estava segurando uma garrafa de água, os policiais pediram que eu bebesse um pouco na frente deles. Depois disso, finalmente estava na fila para pegar a senha.

Peguei a senha e passei por uma pré-entrevista, em que a atendente perguntou o motivo do intercâmbio e pediu os formulários DS-2019 e I-20. Me devolveu os documentos e o passaporte, e então parti para a fila de coleta das digitais.

Depois de muita espera, e ficando atenta às senhas, que são chamadas aleatoriamente, finalmente chegou a minha vez! Ali, no guichê para as digitais, um americano muito simpático e sorridente, cabelos e olhos claros, me chamou de senhorita e deu as instruções, com seu Português carregado de sotaque, sobre como posicionar as mãos no scanner.

Parti, então, para a fila do visto, a qual não estava muito longa. Ainda segurei lugar para o rapaz da frente, que queria ir à cantina. Inexplicavelmente, eu não estava nervosa. E a fila andou sem demora.

Quando chegou a vez dele, não estava ainda com os documentos em mãos e a funcionária, que estava organizando a fila, me disse para ir no lugar dele. Era o guichê 9.

Um senhor grisalho e barbudo me cumprimentou. Muito paciente, e falando de forma clara e pausada, começou suas perguntas em Português.

- Bom dia.
- Bom dia.
- Passaporte e formulários, por favor.

Entreguei confirmação do agendamento, o DS-160 já com a foto e o comprovante do CitiBank anexados, DS-2019, I-20 e passaporte.

- Primeiro visto, Aline?
- Sim, primeiro visto J1.
- Então, qual o motivo do intercâmbio? - Indagou, enquanto lia os formulários. - Ah, sim. Au pair!
- Isso mesmo. Au pair!
- Você já conversou com a família?
- Já, sim!
- Qual o nome da mãe nos EUA?
- É .... .....
- E o pai?
- Ela é divorciada.
- O que ela faz lá?
- Ela trabalha com ....
- Quantas crianças são?
- Três.
- E qual a cidade?
- McLean, VA.

Levantou as sobrancelhas, leu algo no monitor. Digitou, digitou, digitou. Leu algo mais.

- A menina tentou um visto em Junho, mas estava desempregada. Certo?
- Isso mesmo! Foi minha primeira tentativa, para F1, e eu estava desempregada.
- Por que a menina decidiu, em apenas dois meses, viajar como Au Pair?
- Ah, muita coisa mudou neste tempo e...
- Sim, eu vejo. Você conseguiu um emprego, certo? - Disse, interrompendo-me.
- Isso mesmo. Consegui um emprego!
- Desde quando a menina está trabalhando?
- Desde Agosto.
- E a menina vai deixar um emprego que tem só um mês para viajar por um ano? Por quê?
- Porque quero melhorar meu inglês para voltar e continuar trabalhando aqui.

Ergueu as sobrancelhas novamente. Digitou, digitou, digitou.

- Então você fala Inglês?
- Yes, I do! - Respondi, sem nem perceber que havia feito em Inglês.

Neste momento, ele passou a fazer todas as perguntas e comentários em Inglês.

- O que você faz aqui?
- Sobre meu trabalho?
- Sim.
- Sou Engenheira de Software.
- E você usa inglês no seu trabalho?
- O tempo todo! Nosso maior cliente é internacional e tudo relacionado a ele é feito em inglês. As reuniões, os documentos, tudo!
- Então você vai deixar o seu novo emprego? E o que fará quando voltar?
- Quando voltar poderei trabalhar, provavelmente, na mesma empresa, mas também posso ser professora, porque tenho uma graduação em Letras.
- Você pode provar que é graduada?
- Claro! - Respondi sorridente.
- Posso ver?

Entreguei-lhe o diploma da graduação em Letras e o certificado da pós-graduação em Desenvolvimento de Sistemas Web, e disse:

- Olha, tenho uma graduação e uma pós.

Ele olhou os documentos e me devolveu. Levantou as sobrancelhas mais uma vez. Digitou, digitou, digitou.

- Não sei se é uma boa ideia você viajar. Não creio que você voltará.
- Por que não? - Indaguei sorrindo, como se fosse uma conversa informal.
- Ora, por que... Porque você está deixando um emprego de apenas um mês!
- Mas eu tenho duas profissões aqui. Eu voltarei, sim!
- E como você pode afirmar que conseguirá voltar para a mesma empresa?
- Trabalho em uma grande empresa, e toda semana chegam pessoas novas para trabalhar. Quando eu voltar, certamente tentarei retornar lá.
- Humm.. Não sei, ainda não creio que você irá voltar.
- Eu voltarei sim! - E sorri.

Ele esboçou um sorriso, mas voltou a erguer as sobrancelhas. Digitou, digitou, digitou.

Tirou o microfone, pegou meu passaporte com os formulários e saiu. Quando voltou, estava acompanhado do homem que me entevistou em junho. Conversaram algum minutos.

Sentou novamente, colocou o microfone e voltou a me questionar, ainda em Inglês.

- Qual é mesmo o nome da senhora nos EUA?
- É ....
- O nome todo?
- Desculpe! É .... ....
- Você tem parentes lá?
- Não, nenhum.
- Você tem irmãos ou irmãs?
- Tenho aqui.
- Quantos?
- Um irmão só.
- E o que ele faz?
- Ele é Engenheiro Mecânico.
- Ambos Engenheiros? Hum.. Ele está na universidade?
- Não. Já terminou e agora cursa o mestrado.

Novamente, ergueu as sobrancelhas. Digitou, digitou, digitou. Leu algo no monitor. Fez uma pausa. Olhou para mim e disse:

- Me explica melhor o que você faz no seu trabalho.
- Como lhe disse, sou Engenheira de Software. Trabalho construindo sites e dando suporte aos sites do cliente que já estão prontos, junto a uma grande equipe. Bom, eu trabalho com desenvolvimento, códigos.
- Agora diga-me, com suas próprias palavras, qual o propósito da sua viagem? Por que você decidiu deixar um emprego recente para viajar por um ano? Quais são seus objetivos? Assim também aproveito para ver como anda o seu Inglês...
- Ok! O objetivo principal é melhorar meu Inglês, sem dúvida alguma. Escolhi o programa de Au Pair porque acredito que, morando com uma família americana, eu posso aprender muito mais, e praticar muito mais, do que estudando em uma sala de aula com alunos de diversas nacionalidades. Além disso, o idioma é muito importante para as minhas profissões. E em relação a ser professora, todas as escolas de idiomas aqui sempre perguntam aos professores se eles já viveram em outro país.

Voltou a erguer as sobrancelhas. Digitou, digitou, digitou. Pegou meu passaporte e usou o leitor de código de barras para ler o código impresso. Observei atônita, sem saber o que estava por vir.

- Hum... Tá bom, tá bom. Vá lá pagar o Sedex!
- Muito obrigada! Tenha um ótimo dia!

Deixei o guichê ainda sem entender direito o que havia acontecido. Tentava lembrar as últimas palavras dele, para ter certeza de que entendi corretamente.

No episódio em que tive o F1 negado, o homem que me entrevistou me mandou colocar os polegares no scanner, em cima do balcão e depois me disse para pegar o telefone. Quando o peguei, ouvi que havia sido negado. Em seguida, ele me devolveu o passaporte, os formulários e uma folha explicando os prováveis motivos de ter sido negado.

Desta vez, isso não aconteceu. Ele continuou segurando meu passaporte e me disse para seguir em frente.

Quando cheguei na fila do Sedex, olhei para a grade, procurando meu pai. Ele estava ali, curioso, olhando para mim. Fiz um sinal positivo, com a mão direita, e disse que só faltava pagar a taxa.

Ao sai pelo portão, abracei meu pai e lhe contei toda a história acima. Ele, que passou três intermináveis horas em pé ali do lado de fora, ficou orgulhoso. E sorriu.

Comentários

  1. nossa que luta heinnn! mais que bom que deu tudo certo e vc já está aí!!! :D
    mas nossa essas pessoas que entrevistam são muito persecutórios não!?

    Beijosss

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