Sobre quando me tornei mãe

Especialmente para minha mãe, que sonha em ter netinhos. :)


Dizem que Maio é o mês das noivas, mas eu prefiro chamá-lo de o mês das mães. Afinal, no segundo domingo comemoramos, tanto aqui nos EUA quanto no Brasil, o dia delas (beijo, mãe!). Sendo assim, resolvi escrever hoje sobre algo que venho pensado bastante: ser Au Pair fez de mim uma (quase) mãe solteira. Vou explicar o porquê...

Quando procuramos conhecer o programa, todas as agências nos dizem o mesmo: seremos consideradas big sisters, babás divertidas que estão ali para entreter nossos pequenos enquanto toda a parte séria da educação fica por conta (ou deveria ficar) dos pais. Teoricamente, estamos aqui para fazer todas as vontades das crianças, levar onde eles querem, cozinhar o que eles gostam, participar dos jogos preferidos, viver em um mundo de comercial de margarina.

Talvez por conta da idade, por não estar mais nos "vinte e poucos anos", e sim nos "quase trinta", eu acabei tomando a responsabilidade de cuidar das crianças como se elas realmente fossem minhas, como se eu tivesse ganhado três filhos, em vez de três irmãos mais novos. E isso me fez pensar muito, nos últimos meses, como seria a versão "mãe" de mim mesma. Será que quero ter filhos? O que eu realmente penso a respeito da responsabilidade que é a criar e educar um filho?

Minha host é mãe solteira. Seu divórcio finalizou-se aproximadamente em Julho de 2012, mas quando cheguei, em Outubro de 2011, o ex-marido já não morava mais com ela. Tive a oportunidade de acompanhar o processo do divórcio e entender como funciona a guarda compartilhada. Ouvi suas histórias, seus desabafos, seus conflitos. Lido com o ex-marido e com a atual esposa. Acabei virando filha de pais separados, o que me fez pensar mais sobre casamento e família. Será que tudo precisa ser conforme mandam os costumes?

Por morar com a minha host e seus três filhos, pude conhecer mais uma mulher forte, que enfrenta - e soluciona - seus problemas sozinha, que voltou a trabalhar depois de tanto tempo sendo stay at home, que conflita seu modo de educar os filhos com o modo do ex-marido, que se esforça para sustentar a sua família. E eu não falo aqui de dinheiro. Falo do emocional, da força de vontade, do desejo de ser cada vez mais forte e independente.

Muitas vezes as opiniões dela, do pai, e até da madrasta, vão contra as minhas opiniões sobre algumas decisões que eles tomam a respeito dos filhos. Entretanto, eu aprendi a respeitar isso antes de qualquer coisa. Eu não sou a mãe, portanto não cabe a mim educá-los, e sim cuidar deles, para que estejam sempre em segurança e tudo mais. Mesmo assim, assisto à tudo e procuro tirar algum aprendizado, mesmo que este seja do tipo "o que não fazer com seus próprios filhos", seja porque venho de uma cultura diferente, ou seja porque eu acredito que haja diferentes formas de fazer as mesmas coisas.

Enquanto no meu papel de Au Pair, eu procuro trabalhar as minhas regras de acordo com os costumes da minha host, apesar de ela me dar total liberdade para decidir como agir com eles. Sou séria quando preciso ser, esmigalho meu coração quando preciso dizer um "não", mas mantenho minha decisão firme, pois é isso que as crianças esperam de um adulto: que ele seja a pessoa que tudo sabe, que tem certeza do que está fazendo. Ceder às vontades de uma criança, é fácil, dói menos, mas a longo prazo pode trazer consequências até mesmo difíceis para a própria criança. Em todos os outros momentos, que me permitem ser maleável, sou carinhosa, abraço, beijo, faço cócegas, falo - ou uso - palavras erradas para eles rirem e me corrigirem (tree em vez de three, por exemplo, e o pequeno tem espasmos de tanto rir e tentar entender o que uma árvore está fazendo no lugar do número três na minha frase), acordo mais cedo só para preparar um café da manhã homemade em vez de usar os velhos conhecidos congelados, levo para jantar no restaurante favorito, etc.

Chego a brincar dizendo que me tornei mãe solteira, pois estou sozinha nessa jornada com as crianças, sem ajuda física de mais ninguém. Enquanto a mãe está fora, eu assumo todas as responsabilidades sobre eles. Aliás, eu passei a fazer tudo aquilo que ela fazia antes do divórcio, pois ela passava o dia todo com eles. Sinceramente? Não é fácil, mas me orgulho por cada dia que chega ao fim com a sensação de dever cumprido.

O fato é que, apesar de não ter direitos legais sobre as crianças, eu aprendi a amá-las como se fossem minhas. Vez ou outra chego a tentar imaginar como seria se, por ventura, eu precisasse assumí-los como meus filhos. Seria interessante! E isso me fez abrir minha mente para tantos assuntos, sendo um deles a adoção.

Viver dois anos com uma outra família me fez perceber que sou plenamente capaz de amar crianças que não foram geradas por mim, e de ser responsável por elas, querer me tornar um modelo, ser vista como uma mulher séria, e não como a irmã mais velha. E nessa minha vida cheia de planos egoístas (no bom sentido), talvez não haja, tão em breve, tempo suficiente para eu me dedicar a uma maternidade desde o princípio, mas talvez caiba a oportunidade de dar um lar a alguma criança que tanto precisa disso. Não gosto da ideia de ser sozinha a vida toda, quero ter a minha própria família, seja ela como estiver designada a ser, e não tenho pressa, mas o tempo é cruel e ele não espera. A gente envelhece, os planos mudam, as coisas acontecem. Prefiro não planejar meu futuro com tantos detalhes, com datas, com certezas imutáveis. Foco na minha carreira, e deixo todo o resto acontecer.

Acho mesmo é que gosto de acreditar que o meu instinto materno tende mais para o acolhimento de uma vida já gerada, em vez da vontade de fazê-lo acontecer. Pelo menos é o que sinto atualmente. Quem sabe qual será minha opinião daqui alguns poucos anos? A única certeza que tenho, é que ser mãe/pai é uma das tarefas mais trabalhosas e mais sublimes desta vida, e é assim que surgem os Super Heróis. :)

Comentários

  1. Que lindo texto, Aline!

    É difícil encontrar pessoas que tenham essa disposição de ser "mãe de coração", sem que haja nenhuma outra circunstância (como a infertilidade ou dizer "depois de ter um filho 'meu' quero ter um adotado" ¬¬).

    Bacana ver como uma experiência de intercâmbio pode ser tão profunda para alguns. Espero viver algo assim, talvez não igual, mas com tantos valores quanto...

    Beijão, fica com Deus!

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  2. Lindo o post Aline, sempre acompanho seu blog e tenho orgulho da sua trajetória. Como você mesma já esclareceu anteriormente, você não vive em um conto de fadas, mas faz questão de extrair o lado positivo dessa jornada! Seu boy é um fofo, principalmente no Instagram, mas suas girls acho que nunca tinha visto. Espero em breve poder amar uma família como a sua....pensamos muito igual !

    =D

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  3. Aline, que texto!! Parabéns. Certamente você será uma excelente mãe. Aproveite bem a escola que está tendo ai!

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