Língua Inglesa, respeito e cidadania

Passei o domingo pensando se eu deveria expôr o que estou prestes a escrever. Primeiro, achei que era melhor me calar publicamente, para não criar algum mal entendido, ou até mesmo criar desafetos, pois esta história envolve pessoas queridas. Entretanto, ficar pensando em duas situações que aconteceram recentemente, causadas por Brasileiros e pelas mesmas pessoas em ambas as vezes, já estava me cansando fisicamente. Portanto, resolvi escrever aqui uma espécie de reflexão sobre o que aconteceu, sem mencionar as situações em si ou nomes. Meu objetivo é deixar aqui algo a se pensar, sobre o que é respeito e cidadania.

Sempre ouvi comentários ruins, vindos de imigrantes Brasileiros, sobre intercambistas Brasileiros, dizendo que são arruaceiros, que fazem barulho no transporte público, que não respeitam as regras de outros países, que isso, que aquilo. Antes eu achava que isso era birra destes Brasileiros que vivem em outros países há anos e que por isso não têm muito mais paciência com a euforia da descoberta do novo por estas pessoas. Também sempre ouvi reclamações vindas de Brasileiros, residentes no Brasil ou não, sobre como nosso povo e nosso país são vistos aqui fora.

Quando eu saí do meu país, este meu pensamento mudou. Eu comecei a olhar ao redor e perceber que estes comentários não eram birra, mas sim resultado de como muitas pessoas representam o Brasil aqui fora. Por mais novata que eu seja aqui, eu sou diferente de muitos. Eu vim já com a cabeça aberta para absorver a cultura Americana, e não para descarregar a bagagem que eu carrego do meu país, como se sair de lá me fizesse ser melhor que qualquer um. Ou como se o fato de ser Brasileira me obrigasse a ser barulhenta e a confrontar os costumes Americanos.

Eu gostaria que você, seja quem for que esteja lendo este texto, responda a si mesmo o que questionarei a seguir. Se você tivesse a oportunidade de morar em outro país, como você gostaria de ser lembrado pelas pessoas? Você quer ser só mais um Brasileiro barulhento, festeiro e sem regras? Ou você quer ser um Brasileiro único, que respeita as leis (e consegue reconhecer que muitas delas são melhores que as do seu próprio país), que está disposto a experimentar e a descobrir o novo, que age como cidadão mesmo que esteja ali temporariamente, que respeita, que aceita o fato de que sua escolha lhe trás consequências, como estar vivendo sob uma cultura a qual tem muitos pontos diferentes da sua, mas mesmo assim sabe tirar coisas boas disso tudo? Você quer ser só mais como tantos outros, ou você quer ser a exceção?

Eu escolhi ser uma Brasileira que carrega no peito o amor pela pátria mãe, mas que tem plena consciência de que aqui sou minoria. Eu decidi ser uma pessoa que fala do seu país de origem, e que com isso faz com que os outros sintam que estou feliz com a minha escolha e que tenho colecionado aspectos Americanos que serão levados comigo de volta para o Brasil, não para mudar a nação, mas para que eu seja uma pessoa melhor para mim e para a sociedade na qual eu estiver inserida. Quero mostrar que o Brasileiro é aquele povo que gosta de abraço e cumprimenta com beijo no rosto; que se expressa pelo toque e pelos gestos; que gosta de festa, mas que não precisa afrontar ninguém para se divertir; que sempre tem um sorriso no rosto, mesmo que esteja carregando o mundo nas costas; que trabalha duro e se dedica; que é amigável e acolhedor; que gosta de dividir sua cultura apresentando a música, a literatura, a culinária.

Outro dia, conversando com um Americano, ele me perguntou por que resolvi me mudar para cá, o que eu esperava e o que eu encontrei aqui, coisas do tipo. Respondi que aqui encontrei exatamente o que esperava, fui contando coisas sobre mim relacionadas aos EUA e à Língua Inglesa, quando ele me interrompeu e disse "quando você fala, você faz transparecer que a sua escolha está te fazendo ser muito feliz aqui". Eu só consegui sorrir e balançar a cabeça positivamente. Ele estava completamente certo.

Ser feliz com uma escolha é somente uma questão de estar pronto para aceitar suas consequências, e fazer com que tudo se torne aprendizado. É uma questão de saber se portar diante do que é novo, de ser educado, ter senso comum e respeito.

Um dos pontos que mais me chama a atenção, aqui, é o fato de que muitos Brasileiros se recusam a falar Inglês. Seja por preguiça, ou pela intenção de fazer com que as pessoas ao redor não possam compreender,  este último sendo uma atitude bastante rude e que somente mostra falta de respeito com o próximo. Existe um pensamento, o qual considero bem primitivo, de que se tivemos que aprender Inglês para nos comunicarmos com Americanos, então eles deveriam aprender Português para nos compreenderem. A minha opninião sobre isso é simplesmente que não, ninguém é obrigado a saber falar Português, senão as pessoas vindas de países cuja Língua Materna é esta.

O fato é que não convivemos somente com Americanos. Aqui há imigrantes vindos de todo canto do mundo. A Língua Inglesa já é considerada um idioma internacional há algum tempo. É o idioma mais forte, falado pela grande maioria, seja como língua oficial, ou segunda língua, seguido do Espanhol, a qual é segunda língua aqui nos EUA. O Português é falado, oficialmente, em somente oito países, sendo o maior deles o Brasil, o qual é o único na América do Sul a falar o idioma. Será que não é hora de ser humilde e mudar o pensamento que mencionei?

Tenho amigas Argentinas, Francesas e Brasileiras, aqui. As Argentinas são sempre muito acolhedoras e sempre preocupam-se em falar Inglês quando estou por perto. Elas falam Espanhol em algumas vezes, claro, mas nunca me senti excluída, pois em todas as situações em que isso aconteceu foram realmente por necessidade, nunca para que eu não entendesse, intencionalmente, o que elas estavam falando. E sempre que isso acontece, alguma delas me pergunta se eu entendo, e em seguida me explica o que houve. Isso chama-se educação.

Com as Francesas é a mesma sintonia. São divertidas, amigáveis, sempre cuidadosas para me incluírem na conversa. Pouquíssimas vezes as ouvi conversando em Francês, e também pelos mesmos motivos das Argentinas: necessidade. Nunca me sinto excluída quando estou junto das atuais amigas.

Entretanto, quando estou entre Brasileiras e temos alguma amiga de outro país, me sinto um pouco incomodada, como se eu estivesse sendo excluída por não estar falando Português. Passei a prestar mais atenção em quando estamos juntas, e em muitas vezes as amigas de outros países acabam sempre se voltando a mim para conversarem, porque eu sou a única que está sempre falando Inglês. Sim, eu falo Inglês com Brasileiras. Por quê não? E não é para mostrar que eu sei ou que sou melhor, mas porque é simplismente educado usar o idioma que todo mundo ao redor entende. Se você é capaz de falar Inglês com o garçom para pedir sal, então você também é capaz de falar Inglês entre as pessoas que estão à mesa jantando com você. Basta ter bom senso. Aliás, é muito mais simples e prático usar um idioma só, no caso o Inglês, do que ficar mudando o tempo todo. Acredite, o cérebro cansa, você começa a misturar os idiomas e chega até a esquecer palavras, tanto em um quanto em outro idioma.

As Brasileiras que me conhecem sabem como me sinto em situações como esta, isso não é segredo para ninguém, já me abri diversas vezes. Infelizmente, algumas acreditam que isso seja só a minha mera opinião, e que ela é errônea, que não há motivos para sentir-me incomodada, ou para outra garota, de outra nacionalidade, sentir-se excluída.

Eu já passei pela situação de sentir-me excluída, aqui nos EUA, por não entender um idioma. Estava entre Franceses, os quais não tenho mais contato, em NY, e por muitas vezes eles se recusavam a falar Inglês propositalmente. Riam, gesticulavam, demonstravam euforia, e eu me via apática, sem reação, por simplesmente não entender uma palavra e por ninguém se importar de pelo menos me dizer sobre o que estavam falando. Tentei, por vezes, brincar, começar uma conversa, jogar um assunto, mas em todas não fui bem sucedida. Eles voltavam para o Francês em segundos, sem se importarem. Era como se eu não estivesse ali. Portanto, este é o motivo pelo qual me sinto da forma que mencionei, quando entre Brasileiras e poucas de outras nacionalidades, pois eu sei o que é estar do outro lado.

Pergunto-me, às vezes, por que muitas pessoas dizem querer praticar o idioma, e que para isso precisam ter pelo menos uma pessoa de outro país no grupo, se quando têm esta oportunidade, a excluem ao somente conversarem em Português. Não importa se seu Inglês é ruim. A prática faz o vencedor, como dizia uma amiga Alemã. Chego a me perguntar, também, como estas mesmas meninas conseguem conviver com as respectivas host families, e como é a comunicação entre eles, se parece ser tão difícil falar Inglês naturalmente. 

Não existe nada mais prazeroso do que sair com amigos e poder sustentar conversas sobre qualquer assunto, expressar sua opinião, concordar, discordar, ouvir os demais, tirar novas conclusões, tudo em Inglês. Posso citar diversas ocasiões onde estive com pessoas diferentes, com as quais tive bons momentos. Seguem:

  • Uma noite passei na loja da Vans para olhar os modelos, e acabei comprando um tênis só pelo fato de que me senti muito bem recebida no local. O vendedor foi muito gentil, e ao perguntar de onde eu era, começou a conversar comigo sobre diversos assuntos, contou sobre algumas coisas da vida dele, me falou de coisas Americanas que eu deveria provar, como por exemplo o churrasco feito em uma churrasqueira construída a partir de um latão de lixo (novo e limpo, claro). Eu não queria ir embora, porque queria saber mais, falar mais, ouvir mais.

  • Outra noite, já após o trabalho, passei na CVS para comprar alguns itens que estava precisando. Eu usava a minha camiseta do Batmam, a qual é roxa. O caixa olhou para mim e comentou sobre a camiseta, por não trazer as cores tradicionais do personagem. Em seguida começou a fazer uma analogia entre a minha camiseta representar o Batman, mas usar as cores do Coringa. Achei bem interessante.

  • Um domingo qualquer fui ao cinema com um amigo que conheci recentemente. Já havíamos conversado o dia todo sobre muitas coisas que gostamos em comum, e depois de sairmos do cinema não foi diferente. A melhor parte foi quando percebi que as dúvidas que fiquei sobre o filme foram as mesmas dele, ou seja, eram sobre a história, e não porque eu não havia entendido as falas por serem em Inglês. E aí ficamos horas teorizando sobre o que supostamente aconteceu na trama, e fazendo analogias com outros filmes do mesmo estilo, o tipo de conversa que eu costumava ter com meus amigos no Brasil. Eu não queria ir embora, queria continuar ali, conversando e descobrindo outros pontos do filme que talvez eu tivesse deixado passar.
Para mim, falar o idioma oficial do país em que você vive por livre escolha, é portar-se conforme o que é esperado pelos que convivem com você. É uma questão de ser educado, e isso não é errado. Pelo contrário, isso só faz com que você se abra mais, faça novos contatos, e seja vista como uma boa pessoa. Educação ainda é o valor mais precioso que podemos carregar conosco.

Algo muito importante de se lembrar é que, enquanto imigrante, tudo o que você fizer de bom será sempre algo mais, corriqueiro, mas se você fizer algo ruim, esta será a forma como as pessoas lembrarão de você e até mesmo da sua pátria. O que você faz reflete o que você é, mas pode fazer com que as pessoas entendam que este é o reflexo de um povo como um todo.

E quanto a mim, eu sou a exceção.

Comentários

  1. Muito interessante esse post e concordo com o seu ponto de vista!

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  2. Agree! :)
    entendo perfeitamente o que voce diz porque passo por situacoes parecidas aqui tambem!
    E tem amiga que insiste em falar em portugues!
    Eu amo falar ingles e aqui e um lugar onde podemos falar, porque quando voltarmos para o Brasil nao teremos a oportunidade de em qualquer lugar poder falar!

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    1. O que eu acho mais triste é que as pessoas não reconhecem que estão sendo rudes. Para elas, eu é que sou a errada em me sentir mal pelas amigas que não falam Português. Só que uma das minhas amigas fala Espanhol, Inglês e Alemão. E aí, quem é que tem problemas com comunicação?

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  3. Olha Aline, admiro muito sua ''mente''. Você é o exemplo que eu quero seguir quando eu for fazer o programa au pair, abrir a mente, querer aprender em vez de criticar o americano e só querer fazer as coisas do nosso jeito. E eu acho que sei como é você conversar com alguém de outra nacionalidade e ficar fascinada pelo aprendizado que se tem... eu acho muitíssimo interessante aprender coisas novas, culturas novas, bem por isso tomei essa decisão, e espero que tudo dê certo! Pelo que posso entender dos seus posts até agora, você pode voltar pro Brasil e se decepcionar pelo fato de que a maioria dos Brasileiros não pensam com a mente aberta pro mundo, são raras as pessoas daqui do Brasil que compreendem e aceitam as outras culturas, enfim é muito triste mesmo, talvez quem saiba um dia o nosso país mude um pouco esse pensamento...

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    1. Se existem Brasileiros aqui que não têm mente aberta, eu já sei mais ou menos o que esperar quando voltar. Eu me sinto triste por ver como algumas pessoas são acomodadas e egoístas. O mundo não é só o nosso quarto, há muito mais que isso aqui fora. =)

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  4. Excelente texto! Concordo plenamente e acredito que com seu comportamento vai ajudar e muito a mudar a imagem do brasileiro no exterior! Incluir os demais é algo muito importante. Vou te acompanhar pelo twitter, para ler mais dos seus textos. Parabéns, um abraço!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Claro que eu lembro, Renan!
      Que legal ter ex-aluno lendo meu blog! hahaha
      Você vai fazer intercâmbio? Você vai adorar! =)

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    2. Sim, estou correndo atras dos documentos e todas as outras coisas para ir ano que vem. Se tudo der certo, estarei indo fazer intercambio em Chicago ou Boston, nao sei qual escolher ainda.

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    3. O legal aqui é que você pode escolher pra onde ir de acordo com o tipo de lugar que você quer ficar. Eu adoro a costa leste. O bom de Boston é que fica a 4 horas de NY, então você pode fazer um "bate-volta" pra conhecer alguns pontos de lá. Boston é mais frio que NY, e é praticamente cidade universitária, por conta da Harvard.
      Chicago é onde fica o famoso "feijão". É um lugar que quero conhecer, mas ainda não consegui ir. Eu amo Virginia, o estado onde moro, então sou suspeita! hehehe

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    4. Alineeee... estou adorando seu Blog. Admiro muito seu caráter, seu modo de enxegar as coisas e de agir. Esse seu post é diferente de td que vejo em outros blogs e fica como aprendizado pra nós que estaremos um dia aí, pelo menos pra mim será.
      Tô caminhando para ser uma Au Pair. ;)
      Vi sua entrevista com o Carlinhos Troll, muuuito boa, eu adorei tbm...
      Espero que um dia possamos nos conhecer!
      B*jOs e fica c/ Deus.

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    5. Obrigada, Mila!
      Boa sorte na sua jornada como au pair!
      Venha de mente e coração abertos, que você só terá a ganhar. =)

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  6. Oi, eu descobri teu blog pelo vídeo que fez para o CarlinhosTroll, vivi 5 anos em Portugal e compartilho a mesma visão, mesmo falando supostamente (oficialmente) a mesma lingua que os portugueses. Também gosto da tua postura e maneira de ver as coisas e, uma coisa que me fez infelizmente afastar de brasileiros no exterior são estes comportamentos citados. Hoje estou no Brasil de férias, doido para voltar. Quem sabe ainda vou aos EUA que também era o meu sonho antigo(Nunca esqueço os meus). Fico feliz que realizaste o teu com a tua própria garra e vontade. Muito sucesso e felicidade!

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  7. Aline, tudo bom?
    Sei que não nos conhecemos, mas estou aqui para falar sobre o programa au pair. Estou muito inclinado a ir como au pair para o EUA, mas queria tirar uma dúvidas antes de começar todo o processo. Eu vi que você, antes mesmo de ir pra lá, já dava aula de ingles. Quanto de ingles tu acha que é necessário ter para ir e ter uma boa relação com a host familia e saber aproveitar bem o intercambio? Você acha possivel ir com um ingles precário e mesmo assim conseguir se adptar bem ao ambiente, a familia e tudo mais??
    Abraços e parabens pelos seus relatos de quando estava lá

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