O velho dilema sobre a sexualidade das cores

Um dia qualquer, de manhã, o pequeno pegou um par de meias emprestado da irmã do meio, porque provavelmente estava enjoado de só usar meias brancas. Já que as meias eram verdes com bolinhas azuis, sem nada a mais, apesar de serem de uma marca que só produz roupa feminina, eu deixei ele usar. Não questionei, nem disse nada. Simplesmente vi e deixei.

Seria um dia normal, se eles não fossem para a casa do pai naquela noite. Dirigi até a casa do pai, deixei as crianças lá, como sempre faço. Quando estava voltando para casa, recebi inúmeras mensagens de texto da madrasta. Ao chegar em casa e ler todas, me deparei com uma em que ela dizia "Aline, favor checar as meias que o pequeno estiver usando na próxima vez. Ele só pode usar meias brancas de menino. Não o mande mais usando meias de meninas". Sim, ela é educada assim a ponto de nem dizer um "obrigada" ao final e fala como se fosse a minha chefe. Eu não respondi, mas toda vez que eles vão à casa do pai, eu faço questão de ter certeza de que ele não esteja usando nada "de menina".

Eu, quando adolescente, por vezes comprei meias brancas iguais às do meu pai, porque eu queria usar meias altas com All Star, igual aos meus amigos skatistas, e marcas femininas só fariam meias altas daquelas grossas, de academia. Também já cheguei a emprestar bermuda do meu irmão, porque queria algo confortável, na altura dos joelhos, e eu ainda não tinha nenhuma feminina com um corte "boyfriend". Bom, usar meias masculinas e me vestir inspirada nos meus amigos skatistas não me fez ser menos feminina, ou mudar a minha orientação sexual.

Diante deste acontecido com as tais meias, fiquei me perguntando o que faz uma cor ser de menino ou de menina. Ou até mesmo o que faz uma pessoa ser feminina ou masculina. Meninas podem usar meias azuis, verdes, rosas, amarelas, mas meninos só devem usar meias brancas? Estamos falando aqui de um menino de seis anos, cuja cor preferida é o vermelho, e cujos olhos brilham ao ver qualquer coisa multicolorida, e tem orgulho de saber as sete cores do arco-íris.

As meninas têm meias, camisetas e calças das mais diversas cores - incluindo o azul, uma cor supostamente masculina -, e ninguém nunca me disse que elas têm que usar "calça rosa de menina" ou "meias rosa de menina". O menino tem roupas coloridas, mas as meias precisam ser brancas, de acordo com a madrasta. E sabe o que é mais interessante? Quando ele escolhe as próprias roupas, o faz de forma com que tudo combine: calça, camiseta, cueca e meias. Ou seja, se ele pegar uma camiseta vermelha, ele quer meias e cueca com detalhes em vermelho (as cuecas dele são um charme a parte, tem Angry Birds, Angry Birds Star Wars, Carros, etc), e combina tudo com uma calça jeans.

Se o problema, para a madrasta, era as meias serem de uma marca de roupas femininas, eu posso até tentar entender, mas ainda assim acho que é besteira. De qualquer forma, naquela mesma semana levei o pequeno para comprar mais meias. Peguei as brancas, como sempre, e ele escolheu um outro conjunto feito de meias brancas com a ponteira e o calcanhar coloridos (azul, vermelho, amarelo, etc). Deixei, claro! Ele fica todo feliz ao poder escolher o que quer vestir. E se a mãe não impõe regras quanto a isso, quem sou eu para o fazer?

E esta cena se repetiu há poucas semanas, quando o levei, novamente, para comprar cuecas e meias. Escolheu as cuecas com os personagens favoritos, e me pediu as "rainbow socks", que nada mais eram do que seis pares de meias masculinas na cor cinza, cada uma com a ponteira e o calcanhar de uma cor. E, claro, também trouxe as brancas para evitar a fadiga.

Meias de menino. Coloridas, mas de menino.

O que faz dele um menino masculino? Obrigá-lo a usar meias brancas, ou as atitudes dele?

Enquanto pais e mães acharem certo presentear meninos com armas e jogos violentos, mas acharem errado que eles queiram usar um par de meias colorido, eu vou continuar pensando que este mundo anda um pouquinho confuso quando o assunto é a definição de gêneros.

Comentários

  1. Concordo com vc. Essa madastra é exagerada.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ela vive em um universo paralelo. Se eu pegar só os chiliques dela pra contar, dá um livro! lol

      Excluir
    2. hahaha sempre tem uma maluca...mas tudo isso, é um aprendizado a mais...bjos

      Excluir
    3. Todo conto de fadas tem madrasta má. Eu fui cair em um com uma madrasta louca! hahaha

      Excluir
  2. Nossa..que mulher ignorante! uma pessoa esclarecida/inteligente não daria importância a algo tão insignificante... mas aproveita e pergunta se ela precisa de alguém pra orientar a cor das calcinhas dela também! kkkk

    ResponderExcluir
  3. Aline, sou homem e você tem toda a razão sobre as cores. No entanto posso te afirmar, jogos violentos e armas de brinquedos não farão com que o garoto ai se torne alguém mau ou violento. Para nós meninos, brincar com armas ou jogos violentos é só parte de uma fantasia também e que tb é importante no desenvolvimento. Tudo vai de educação e...índole.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu sou fã de video game, não quis dizer que é necessário proibir. Eu só acho que devem haver limites. Aqui nos EUA eu tive a oportunidade de assistir à forma como os pais educam seus filhos, e posso dizer que difere muito da nossa cultura. Já vi meninos com menos de 10 anos viciados em jogos achando "normal" querer fazer o mesmo que se faz na tela na vida real, querendo bater em babá, dizer que quer vê-la chorar, sair batendo no cachorro, no gato, no irmão mais novo. E é nítida a intenção da crianças quando ela tem má índole. Já vi também casais dando armas de verdade de presente um ao outro (porque aqui é permitido em alguns estados possuir armas devidamente regulamentadas), na noite de Natal, em frente às crianças, e fazer pose para fotos, como se aquele objeto fosse algo corriqueiro, natural. Enfim, limites são necessários na formação de um indivíduo. :)

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Gastos (gerais) com o programa de Au Pair

Permissão Internacional para Dirigir

Última semana no Brasil