{conto} A Visita

"Leave my loneliness unbroken! - quit the bust above my door!
Take thy beak from out my heart, and take thy form from off my door!
Quoth the raven, 'Nevermore.'" (Edgar Allan Poe, 1845)




Era um dia frio de fim de Outono, um domingo qualquer de Novembro. Dentre tantos planos, um lhe fugia à rotina das aventuras por lugares tão bem comentados. Naquela manhã, decidiu visitar aquele que a acompanhou por anos e lhe fez apaixonar-se, mas que nunca soube que ela existia.

As roupas que usaria para a ocasião, escolheu minuciosamente. Vestiu o suéter mais aconchegante, e combinou com seu casaco preferido. Antes de sair, pegou um de seus livros na mesa de cabeceira, daqueles cujo título já encontra-se apagado da capa, denunciando quantas vezes ela o relera.

Dirigiu silenciosamente. A cidade parecia ter parado, naquele dia. Poucos carros nas ruas, prédios e janelas fechados, cafeterias sem clientes. A cada pausa no semáforo, fitava o livro cuidadosamente repousado no assento ao lado. Em pouco mais de meia hora de viagem, estacionou o carro.

Andou por entre ruas onde encontrou prédios de diversas cores, embora parecessem abandonados. Cruzou alguns poucos moradores de rua, e lhes deixou as moedas que podia oferecer. Caminhou, sozinha, até encontrar as grades desconhecidas que cercavam aquele lugar prestes a lhe ser apresentado.

O portão, encontrou aberto. Observou o seu redor por alguns segundos, e então caminhou recinto adentro.

Pela trilha feita de tijolos desgastados, caminhou por entre tantas pessoas as quais nunca imaginou conhecer. Todas serenas, em silêncio. Olhou a foto de cada uma, leu nome por nome. Há décadas, todas estas já descansavam em paz.

Continuou caminhando. Levava seu livro abraçado contra o peito. Sorriu ao ler algumas escrituras e notar que alguns nomes soavam familiares. Dirigiu-se ao fundo do campo gramado, acompanhando a trilha nostálgica.

Lá estava ele, iluminado pela luz do sol, a qual, vinda de um ângulo certeiro, desenhava sua sombra sobre a grama de forma que, ao postar-se diante dele, ela estivesse protegida, mas ele continuasse à mostra, destacado pelo feixe de luz.

Ela esboçou dizer seu nome, mas tamanha era a felicidade, que um sorriso logo ganhou seus lábios, impedindo-lhes de exercerem qualquer outro movimento. Era quase impossível acreditar que ele estava ali, diante dela.

O túmulo datava de 1849. Seu nome, gravado em baixo relevo, continuava legível. Sobre ele, o seu mais conhecido personagem apresentava-se esculpido em pedra, junto de uma citação de seu mais famoso poema: o Corvo. Ao lado deste, algumas moedas deixadas por visitantes passados, como oferenda a ele.

Durante os primeiros segundos, ela foi incapaz de se mover. Respirou lentamente, enquanto seu olhar fitava cada detalhe da sepultura. Em seguida, sentou-se ao chão. Aconchegou-se, encostando-se nele. Abriu seu livro, e releu um de seus contos favoritos.

O tempo passou em silêncio, sem que ela pudesse perceber. Ouviu o vento sussurar seu nome: "Lenore...". Sentiu a grama abraçar-lhe. Assistiu ao Corvo alçar voo. Lançou seu olhar ao céu, e sorriu mais uma vez, para nunca mais.

Comentários

  1. Muito legal seu blog, estou sempre de olho ;)
    Vc é realmente uma pessoa iluminada!
    Estou te seguindo aqui!
    beijoss

    ResponderExcluir
  2. Gostei do seu Blog e gostaria de saber sobre o contato com a família no processo. Você tem que conversar mesmo com a família?e se a pessoa não for muito fluente e ficar nervosa,sei lá,nos contatos?como a família reage?
    Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, você precisa ter o contato com a família antes de vir, por milhões de motivos. Afinal, você não vai querer sair do seu país para vir morar com gente com quem você nunca viu nem conversou, nem que seja por Skype.
      O Inglês precisa ser, no mínimo, intermedário. É feito um teste na agência, antes de se inscrever. Se você não for bem no teste, será aconselhado a fazer aulas por alguns meses e tentar inscrever-se de novo. O idioma é muito importante, não só na comunicação com a família, mas para você mesmo no geral. =)

      Excluir
  3. Olá, lendo umas postagens antigas vi q já teve um visto negado. Era de turismo? Eu vou tirar o visto de turismo agora,mas não trabalho. Sou recem formada, mas tenho casa, carro no nome e levarei uma carta de custeio do meu pai. Você acha que pelo fato de ser desempregada já é certo que o visto será negado? Obrigada!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O visto que tive negado foi o F1, para estudantes.
      É muito difícil dizer o que faz um visto ser negado ou não. No meu caso, estar desempregada pode ter sido o motivo, pois intercâmbio de estudo é um dos mais caros. Mesmo eu tendo dinheiro suficiente para me sustentar aqui, foi negado.
      Boa sorte! :)

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Gastos (gerais) com o programa de Au Pair

Permissão Internacional para Dirigir

Última semana no Brasil