Sobre casamento, família, filhos e afins

Atenção: post introspectivo, em tom de desabafo. Compreendo quem não gosta do gênero.

Eu sou o tipo de pessoa que vê nos pais o modelo do que é um casamento. Vejo na minha família o exemplo que quero seguir, seja quando for o momento para que eu construa a minha.

Família é aquilo que dá certo entre os envolvidos. Não importa quantas pessoas façam parte dela, se nela há harmonia. E cada um tem seu pensamento sobre isso.

Quando você é colocado em uma família que não é sua, você é capaz de enxergar aquilo que algumas pessoas não conseguem ver. Qualidades e defeitos aparecem, dúvidas, respostas. Você começa a prestar atenção em como outras famílias funcionam.

O fato de viver com uma família estranha, em um país onde você não nasceu, ainda é carregado de muitos fatores os quais a gente não pode deixar de lado. A cultura pesa muito na forma em como as pessoas agem. E, acredite, o choque pode ser muito maior do que se imagina.

Vejo por aqui famílias com três, quatro, cinco filhos. Pais que trabalham quase vinte e quatro horas por dia, e mal têm tempo de dizer boa noite às crianças. É assim que a economia gira aqui. É trabalhando de sol a sol que se mantém tudo o que é material. Mas até que ponto a vida material preenche as pessoas?

Presencio casamentos aparentemente coesos. Outros, quebrados. E alguns até mesmo remendados. Pelas crianças? Pela sociedade? Pelo medo da solidão? Não sei. Porém, esta é uma realidade muito diferente da que eu vivenciava no Brasil.

Sabe quando você conhece um casal, e aos poucos vai percebendo que alguma peça está mal encaixada? Aqui, às vezes, isso é muito evidente. Você cria questionamentos, surgem dúvidas. Você passa a conviver fechando um dos olhos, fazendo de conta de que não enxerga o que está tão explícito. Afinal, sua vida aqui é passageira e, se para eles isso funciona, então não é problema seu.

Tive a oportunidade de conhecer alguns Americanos e até imigrantes por aqui, na intenção de ter amigos para compartilhar experiências e praticar o Inglês. Logo de cara, a pergunta padrão que eles fazem é "você é casada?" e em seguida, ao ouvirem a resposta, tentam lhe convencer de que você deve casar-se e viver aqui, porque isso, porque aquilo... Muitos ignoram que vimos com um objetivo traçado e que este não inclui um casamento (pelo menos para mim). Deixam de lado o fato de que ficaram para trás toda uma vida e muitos planos, os quais serão retomados ao final da nossa experiência. Tratam-nos como se fôssemos ofertas, para pegar ou largar, em um prazo de um ou dois anos, como se depois do programa de Au Pair não tívessemos mais o que fazer da nossa vida, como se não tivéssemos família, amigos, sonhos...

Conheci um Americano. Cheguei a trocar sms com ele por meses - Americano não telefona, coisa que nunca entenderei - , porque ele é uma pessoa legal e inteligente, mas me cansei quando percebi que ele está procurando alguém cuja única saída seja sucumbir às hierarquias do modelo Americano de casamento, que não tenha sonhos nem vontade própria, que esteja desesperada para ficar aqui. Lembro-me de quando, sem me conhecer direito, ele perguntou "se você encontrasse um cara legal, e ele quisesse casar com você, você ficaria aqui?". Quando eu disse que voltaria ao Brasil mesmo se estivesse namorando alguém aqui, porque tenho minha carreira e meus objetivos a serem alcançados, ele fez uma expressão de surpresa, como se nenhuma mulher nunca tivesse mostrado à ele que nós podemos decidir fazer o que bem entendemos. Como posso responder a uma pergunta dessa sem estar efetivamente em um relacionamento? E como é que posso pensar em querer um relacionamento com uma pessoa que já me pressiona antes mesmo de me conhecer? Sabe aquele estereótipo que sempre brincamos sobre como os homens reagem quando uma mulher fala em casamento? Me senti exatamente assim. Me deu vontade de sair correndo!

Talvez seja pré-julgamento, e talvez eu esteja errada - e eu espero estar, confesso -, mas tenho a impressão de que casamento, aqui, é só mais uma convenção para seguir padrões. Não importa se dá certo ou não, afinal histórias de divórcio são o que mais se vê por aqui e muito frequentemente. Não faz diferença se é harmonioso ou não, se as pessoas têm tempo para dedicar-se às relações ou não. O importante é mostrar para a sociedade que você não está sozinho. Tudo me parece muito superficial, e é até complexo tentar explicar.

E é aí que as pessoas as quais estão fora desse nosso universo paralelo sentem dificuldade para entender por que sentimos tanta falta de casa, tanta falta de um relacionamento, tanta falta de um abraço... A carência torna-se algo muito mais complexo que somente a vontade física. Você passa a sentir falta de gente que fala a mesma língua que você, ou seja, que vive no mesmo mundo, que vem da mesma cultura, que, de alguma maneira, vai saber lidar com as suas aflições, e vice-versa.

Não quero soar preconceituosa, ou levantar a bandeira de que no Brasil tudo é perfeito e isso não acontece, porque eu sei que não é bem assim. O fato é que a forma como as coisas acontecem no nosso país já está implícita na nossa cultura e na maneira como vemos as coisas. Talvez este seja o meu "problema". A forma como enxergo algumas situações pode ser errônea em relação ao que é "normal" por aqui.

Viver em outro país não é só adaptar-se ao idioma e à comida, é algo que vai muito mais além disso. Não é só aceitar que há diferenças, mas é também surgir a vontade de entendê-las, de compreender como tudo funciona, e isso vai fazer com que haja questionamento sobre o que é certo ou errado a partir do seu ponto de vista, vindo de uma realidade totalmente oposta.

Quando digo que é impossível compreender o coração de uma Au Pair, é exatamente porque ele é bombardeado de sentimentos e dúvidas a todo instante. E isso só aguentam, e entendem, aquelas que já estavam preparadas para viverem em um campo de concentração. =)

Comentários

  1. Muito interessante o post.. Ainda estou no Brasa mas já tinha ouvido falar dessa vida de americano q só casa e tem filhos mais por causa da cultura do q por vontade.. Mas se eles acham q funciona desse jeito, paciência..

    Bjs.. Fica com Deus..

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  2. Olá Aline, como vai?
    Aqui quem fala é a Débora, a sua (ex)agente da Cultural Care.
    Estive lendo seu blog na ultima hora, li sobre o problema com a conexão, sua semana de treinamento, seu primeiro dia na família e alguns outros, fiquei muito orgulhosa e muito contente que você esteja aproveitando seu ano e tendo experiências incríveis.
    Eu sai da Cultural Care em Abril, mas "minha meninas" vão estar sempre no meu coração! Fico feliz por ter feito uma pequena participação na sua história!
    Esta questão do casamento x americanos eu vivenciei de uma maneira muito diferente, talvez por que eu tenha conhecidos maridos e esposas apaixonados, mesmo depois de 3 ou 4 filhos e anos de casamento. Como fui namorando, não paquerei nenhum americano, então, não posso opinar sobre isso, mas uma amiga muito próxima se casou com um, e ela é muito feliz hoje, inclusive tem um menino que está prestes de fazer 1 ano.
    Você está morando em Loundoun County, no mesmo que morei, vi que você frequenta o Dulles Town Center e o Tyson's Corner, eu ia sempre nos dois! Eu morava em Ashburn, é provável que a essa altura você já conheça a cidade!

    No mais, boa sorte para você, tudo de bom mesmo!

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    Respostas
    1. Nossa, que surpresa! Nem imaginava que você lia meu blog! =)
      E que pena que saiu da CC! =( Sempre que me perguntam sobre agência, conto como foi meu processo e sempre menciono você. =)

      Sobre relacionamentos, eu tenho uma amiga que fez faculdade comigo e mora aqui há uns 4 anos. Ela se casou, e tem uma história linda! Quando ela me contou como tudo aconteceu, fiquei toda boba ouvindo. =)

      Eu acredito que haja sim casos em que tudo dá certo. Talvez menha visão seja por conta dos tipos de famílias que tenho encontrado, através de outras meninas. A minha host mom é divorciada, e isso me faz lidar com esse assunto, coisa que eu não vivi no Brasil, mas nada disso atrapalha a minha experiência. É só algo a mais para ser observado.

      E eu me lembro que você comentou morar perto de Leesburg. Estou em Ashburn mesmo! Nos mudamos pra cá no final de maio. Antes estávamos em McLean.

      Tudo aqui tem sido exatamente como eu esperava. E isso eu agradeço todos os dias! Aliás, a vida aqui tem sido tão boa comigo, que acabei decidindo por ficar para o segundo ano, e com a mesma família.

      Obrigada por tudo! =)

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